sexta-feira, julho 31, 2009

Prazo x qualidade: o dilema do mercado norte-americano

Por Sérgio Codespoti

Recentemente, C.B. Cebulski, editor, escritor e caça-talentos da Marvel, fez duras críticas à qualidade dos trabalhos de alguns artistas e editores, sem revelar os nomes em questão.

Mas o que será que há por trás disso?
Criar uma história em quadrinhos requer um mínimo de conhecimento em diversas disciplinas. Por isso, embora seja normal que um único artista/escritor produza uma HQ, a maioria das grandes editoras emprega uma equipe para executar a tarefa dentro de um prazo mais restrito.


Vamos ao passo a passo.

Primeiro é necessário escrever um roteiro, de preferência com começo, meio e fim (embora, infelizmente, a ausência de final já faça parte da rotina das HQs de super-heróis), tendo em mente que a história será desenhada em quadros. E como não é um filme, de modo geral, apenas uma ação pode ser ilustrada por quadro (1: Peter Parker veste seu uniforme; 2: Homem-Aranha abre a janela; 3: Homem-Aranha se balança em sua teia, entre os prédios de Nova York etc.).


O segundo passo é o desenho a lápis. Para isso, o artista precisa ter conhecimentos de anatomia, perspectiva, composição, luz e sombra e narrativa. Afinal, não se trata de uma ilustração isolada, mas de um conjunto de quadros que serão lidos numa sequência.


E aqui surge o grande vilão dessa história: o prazo. Dentro do processo industrial/comercial de produção nas grandes editoras americanas, existe uma série de prazos a serem cumpridos.

A editora precisa informar, com meses de antecedência, quais revistas serão lançadas, em que meses, com quais escritores e artistas. E, frequentemente, ainda tem que fornecer uma sinopse da história ou a capa para que a Diamond (distribuidora que mantém um monopólio do mercado direto dos Estados Unidos) possa publicar esses dados no catálogo Previews, que é distribuído para as comic shops e do qual os lojistas escolhem seus pedidos.


Para cumprir a promessa feita acima, os editores precisam receber roteiros e desenhos num certo espaço de tempo. Mas cada desenhista tem seu modo de trabalhar - e sua velocidade. Poucos são capazes, como Mark Bagley, de criar 22 páginas por semana. Outros, bastante talentosos (como Alan Davis), desenham apenas 12 edições por ano (e não 18, como acontece com títulos rentáveis como X-Men ou o antigo Amazing Spider-Man, antes de se tornar semanal). E existem aqueles, que apesar de muito técnicos, como Arthur Adams, Adam Hughes, Mike Mignola, Frank Quitely e Travis Charest, precisam de um tempo bem maior para produzir suas HQs.

E é por isso que as grandes editoras estão sempre desesperadas para encontrar novos artistas, mesmo que algum dos recém-descobertos tenha carência justamente do atributo mais básico: o talento. O resultado pode ser visto mensalmente em títulos mal desenhados.

Tradicionalmente, a etapa seguinte ao desenho seria a arte-final. Esse processo envolve o uso de tinta preta (normalmente nanquim, embora existam outras técnicas) para criar uma arte que possa ser reproduzida com fidelidade usando os processos gráficos em vigor.


Detalhe de uma página de Avengers #63 (Roteiro de Geof Johns, desenhos de Alan Davis, arte-final tradicional de Mark Farmer). Como nem sempre o responsável pelo lápis é o mesmo que aplicará o nanquim (afinal, dividindo as tarefas se acelera a produção e se ajuda a cumprir o prazo), uma das reclamações mais comuns dos desenhistas é que seu traço (e seus detalhes preciosos) foi arruinado pelo sujeito que fez a arte-final.


Existe o caso famoso de Vince Colleta - elogiado por alguns e execrado por muitos -, que apagava o lápis de Jack Kirby, eliminando detalhes do cenário, para que pudesse completar a arte-final dentro do prazo pedido pelo editor - isso é relatado no livro Tales to Astonish.


O outro lado desta moeda é que há arte-finalistas espetaculares, verdadeiros mestres do pincel e da pena, que não apenas interpretam (isso mesmo, interpretam, pois arte-finalizar não significa apenas passar a tinta sobre o lápis) de maneira correta, como melhoram o trabalho. O difícil é fazer isso no prazo da editora, que nem sempre é realista.


Dessas parcerias surgiram duplas famosas como John Byrne e Terry Austin, Alan Davis e Mark Farmer, Paul Gulacy e Dan Adkins e outras.


Embora sempre tenha existido maneiras de reproduzir a arte diretamente do lápis, elas não são comumente empregadas. Mas há anos o processo de arte-final não é mais uma necessidade indispensável para a produção dos quadrinhos. A principal razão disso é o Photoshop, o programa de edição fotográfica que virou sinônimo de manipulação da imagem.

A chamada arte-final digital é mais rápida que o processo tradicional. Por isso, é outro recurso bacana para editores desesperados em cumprir seus prazos, mesmo que a arte sofra com isso.


O problema não é do Photoshop, mas das pessoas que o utilizam, ou aprovam o seu uso. Como qualquer outra ferramenta artística, é necessário conhecer a teoria, entender os recursos, para aplicá-los da maneira mais adequada e satisfatória.

Graças ao Photoshop, é possível que o traço a lápis de um artista seja transformado em arte-final, de uma forma razoável e relativamente rápida. Para tanto, é preciso que a qualidade do desenho seja bem técnica e precisa, com as linhas definindo meticulosamente cenário, objetos e figuras humanas. Usando do bom senso, o artista (ou técnico) responsável pela transformação interpreta a intenção do desenhista e, voilá, a página está pronta para ser impressa.


Mas a palavra-chave aqui é bom senso. A dupla que exemplifica este processo com louvor é Frank Quitely e Jamie Grant, em All-Star Superman.

Devido aos prazos conturbados, e muitas vezes ridículos, está se tornando corriqueiro "pular" a arte-final e resolver a arte no traço. Os resultados, entretanto, não são os melhores. Cada vez mais, os editores estão adotando este procedimento com artistas e páginas que estão longe de estarem prontas para receber o nanquim, e muito menos serem transformadas no Photoshop.

Detalhe de uma quadro de All-Star Superman #7 (texto de Grant Morrison, desenho de Frank Quitely e arte-final digital e cores de Jamie Grant) E esta é uma das razões pelas quais muitas revistas têm um desenho com uma aparência meio "suja", com cara de esboço disfarçado.

A revista Marvel Illustrated - The Odyssey # 6, desenhada pelo brasileiro Greg Tocchini, é uma amostra dos dois tipos de arte-final (ou da ausência dela).


Nela, o bom trabalho dos artistas foi comprometido pelo prazo apertado. O arte-finalista Roland Paris não conseguiu entintar todas as páginas e algumas delas foram "elevadas" do lápis à arte-final, no Photoshop.

A diferença de qualidade é visível, principalmente porque esta não era a proposta original da série. Para uma revista em preto e branco, faltam apenas dois procedimentos: as letras, que podem ser feitas à mão ou no computador (há vários programas que podem ser utilizados, como Photoshop, Illustrator e até mesmo InDesign ou QuarkXpress), e a criação da capa (um processo que exige muito mais do que a maioria dos leitores pode imaginar).

Mas se a HQ for colorida, como a maioria produzida pela Marvel e a DC Comics, a coisa não termina aqui. É necessário aplicar a cor.

E volta-se ao problema anterior.

Atualmente, o Photoshop permite que qualquer um aplique cor sobre uma página de quadrinhos. A diferença é que se você é um colorista como Matthew Hollingsworth, Dave Stewart, Laura DePuy Martin, para citar alguns nomes premiados, o programa é a ferramenta ideal.

Por outro lado, se o "colorista" desconhece a teoria e o bom senso, o resultado pode ser catastrófico, como é possível verificar em algumas revistas publicadas nos últimos anos.

E faço aqui um aparte para esclarecer, antes que me xinguem: não é preciso ser artista premiado para colorir no Photoshop. Mas bom senso é indispensável.

Outro pecadilho cometido por coloristas, com a melhor das intenções, é a tentativa de acobertar erros cometidos na arte (aliás, esta tarefa ingrata também é muito conhecida dos arte-finalistas tradicionais), seja no desenho ou arte-final, inclusive digital.

O disfarce dos problemas pode até funcionar para alguns leitores, mas uma vez descoberto pelos mais atentos, ganha as dimensões de uma pústula, atraindo o nosso olhar.

Não estaríamos discutindo esses problemas aqui se a situação não fosse epidêmica e se os editores estivessem fazendo a sua parte. Sim, afinal esta é uma das funções do editor.

Para quem acha que estou exagerando com a "epidemia", vale lembrar o caso de Brian Hibbs e outros lojistas, que processaram a Marvel por problemas relacionados ao atraso das revistas, equipes artísticas e até conteúdo diferente do anunciado. O processo mencionava 110 títulos com problemas num período entre 1997 e 2003.

Um exemplo mais recente ocorreu em 2007, quando a DC Comics publicou a série Amazons Attack. Um leitor gravou um vídeo postado no YouTube (infelizmente já removido), criticando a série; em seguida, devolveu todas as revistas que comprou (cinco edições) num envelope endereçado ao editor Matt Idelson.

O editor está lá para avisar o roteirista que Sebastian Shaw, vilão dos X-Men, não possui poderes mentais (como saiu na revista escrita por Grant Morrison e o escocês foi forçado a se desculpar); cobrar a arte no prazo; criticar quando o desenho está com problemas (e elogiar quando merece); e, acima de tudo, para garantir que a revista chegue ao leitor com a qualidade merecida.

Essas críticas são consequência de problemas graves que se enraizaram nos quadrinhos americanos ao longo das duas últimas décadas. Para cumprir prazos e publicar uma enorme quantidade de revistas mensais - a Marvel publicou mais de 80 títulos em junho de 2009 -, as grandes editoras baixaram consideravelmente o padrão de qualidade aceitável das suas revistas.

E, vale lembrar: quando o editor (e por extensão a editora) faz seu trabalho direito, dificilmente precisa defender o material que publica.


Sérgio Codespoti gosta de todo tipo de quadrinhos, inclusive de super-heróis, e prefere suas HQs com bons roteiros e belas artes, mesmo que isso signifique esperar alguns meses por sua revista preferida..



Publicado na Coluna Chiaroscuro no site do Universo HQ

Indicado pelo prof. Jean Paulo

terça-feira, julho 28, 2009

Vignoli - ainda dá tempo!

O Museu Inimá de Paula apresenta o pintor mineiro Fernando Vignoli que inicia uma série de exposições pelo mundo. O museu persiste em sua ambiciosa missão de inserir a cidade no circuito das grandes exposições, igualmente, apoiar e dar visibilidade à produção local.

Há seis anos Vignoli reside em Nova Iorque, onde se consagrou participando de exposições ao lado de ícones da arte contemporânia como Gerard Richter, Tom Wesselman, Andy Wharol entre outros. O público poderá tomar contato com a mais recente produção do artista, marcada por uma atmosfera surreal bastante particular.

Horário
Terça, quarta e sexta 10:00 às 19:00
Quinta 12:00 às 21:00
Sábado 10:00 às 18:00

Ingresso
Inteira: R$5,00 Meia: R$ 2,50
Menores de 10 anos e maiores de 60 anos tem entrada gratuita, meia entrada destina-se a estudantes identificados.

Localização:
Rua Bahia 1201, centro Belo Horizonte / MG

Animaserra 2009


Está sem nada para fazer? Então, aproveite antes que as férias acabem e produza!

ANIMASERRA 2009
4º Festival Nacional de Cinema de animação e Quadrinhos da Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro.

REGULAMENTO (ver regulamento completo)

DA INSCRIÇÃO
1 - A INSCRIÇÃO DE OBRAS NO ANIMASERRA É INTEIRAMENTE GRATUITA.

1.1 - A inscrição no concurso ANIMASERRA 2009 será efetivada nas seguintes etapas: inscrição on-line e preenchimento do documento disponibilizado (carta de autorização de uso de direitos autorais) para download abaixo e postagem dos mesmos juntamente com a obra e fotocópia (xerox) da identidade do autor da obra inscrita.

1.2 - A obra deverá ser enviada SOMENTE pelo correio com os seguintes itens: a carta de autorização de uso de direitos autorais, conforme item 1.5, impressa e assinada conforme item 1.3 e cópia de documentos conforme 1.6.

1.3 - Imprimir a carta de autorização de uso de direitos autorais disponibilizada para download abaixo, preenchendo todos os dados com letra legível, assiná-la, reconhecer firma (assinatura) em cartório e anexar à postagem.

1.4 - Poderá ser inscrita mais de uma obra por participante, desde que sejam preenchidas cartas de autorização de direitos autorais (item 1.5) separadas para cada obra;

1.5 - O Animaserra 2009 terá exposições e mostras itinerantes, publicações e dvds de divulgação não comercial. Para que os trabalhos de todos os classificados sejam divulgados nas exibições e produtos, o participante terá que imprimir, assinar e reconhecer firma em cartório da CARTA DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE DIREITOS AUTORAIS, disponibilizada para download abaixo. Os trabalhos enviados que não contiverem esta carta e os demais documentos solicitados estarão desclassificados automaticamente;

1.6 - O(s) participante(s) deverá(ão) anexar à postagem uma cópia da carteira de identidade do autor, não havendo necessidade da mesma ser autenticada. Caso a obra tenha mais de um autor, a postagem deverá conter cópia da identidade de todos os autores;

1.7 - Após concordar com o regulamento, o participante deverá efetivar a inscrição preenchendo formulário on-line.

DO PRAZO E DAS CONDIÇÕES DE PARTICIPAÇÃO
2 - Estará apto a participar do ANIMASERRA 2009 todo e qualquer brasileiro residente no Brasil e qualquer estrangeiro residente em território nacional brasileiro há pelo menos 1 (um) ano, mesmo que a obra a ser inscrita não tenha sido concluída dentro do território nacional. A idade mínima para a inscrição do candidato é de 18 (dezoito) anos completos;

2.1 - O PRAZO DE INSCRIÇÃO É DE 13 DE JULHO às 00h00 A 30 DE SETEMBRO DE 2009 às 23h59;

DO CONTEÚDO DAS OBRAS INSCRITAS
3 - O tema abordado na obra inscrita no ANIMASERRA 2009 é livre, sem restrição de abordagem de assuntos ou de linguagem. Porém, EXCLUI-SE desta condição obras que FOMENTEM DISTORÇÕES SOCIAIS COMO APOLOGIA AO CRIME E/OU DROGAS E/OU QUALQUER TIPO DE PRECONCEITO, A ENUMERAR-SE RACISMO, HOMOFOBIA, PORNOGRAFIA, ANTIRRELIGIOSO ou quaisquer outros tipos de preconceitos notoriamente identificados pela comissão julgadora. Caso algum trabalho deste gênero seja inscrito, a comissão julgadora permite-se à exclusão da obra na competição;

DOS FORMATOS PARA INSCRIÇÃO DAS OBRAS PARA PRÉ-SELEÇÃO
4 - As obras a serem inscritas no ANIMSERRA 2009, devem estar em um dos seguintes formatos:
4.1 - WMA (Windows Meta Archive);
4.2 - QuickTime, qualquer versão;
4.3 - MP4;
4.4 - AVI;
4.5 - Obras produzidas em Flash OBRIGATORIAMENTE terão que ser RENDERIZADAS em MPEG, AVI, QuickTime ou MP4. Não serão aceitos trabalhos nos formatos ".swf" ou ".fla";

4.6 - Tiras de HQ em JPEG ou em papel;

4.7 - Caso o arquivo inscrito não se enquadre em um dos padrões determinados pela organização do festival, estará automaticamente fora da pré-seleção;

DAS CATEGORIAS PARA INSCRIÇÃO
8 - As categorias para inscrição no ANIMASERRA 2009 serão as seguintes:
8.1 - Curta 2D
8.2 - Curta 3D
8.3 - Stop-Motion
8.4 - Técnica Mista
8.5 - Flash (obrigatoriamente renderizadas em Quick Time, MPEG, MP4 ou AVI);
8.6 - Tira de Quadrinhos

DA PREMIAÇÃO
10 - A premiação para as categorias do ANIMASERRA será:

10.1 - Vencedor ABSOLUTO do festival:
1 Mesa digitalizadora (Estilo Tablet), software de animação (Toon Bomm ou ZBrush), publicação de referências à obra no Catálogo ANIMASERRA, certificado ANIMASERRA, veiculação no portal do festival e camisa Animaserra;

10.2 - 1º lugar de cada categoria:
Kit Animaserra, software de animação (Toon Bomm ou ZBrush), certificado ANIMASERRA, publicação de referências à obra no Catálogo ANIMASERRA e vinculação no portal do festival;

10.3 - A entrega das premiações poderá ser feita em mãos ao vencedor - se este comparecer ao evento e se identificar de forma clara e verossímil à organização do evento;

10.3 - Também poderá ser feita a entrega da premiação aos contemplados através dos correios em até 6 (seis) meses após o término do festival;


Indicado por Angelo Carvalho

segunda-feira, julho 27, 2009

Arte do povo no Brasil dos séculos XX E XXI

O Sempre Um Papo e a Casa Fiat de Cultura apresentam no dia 30 de julho, quinta-feira, às 19h30, a palestra “Arte do povo no Brasil dos séculos XX e XXI”, dentro do ciclo “Arte em Dez Tempos”. A antropóloga, escritora e historiadora de arte carioca, Lélia Coelho Frota, uma das maiores especialistas no tema, autora do “Pequeno dicionário da arte do povo brasileiro — Século 20”; e a artesã do Vale do Jequitinhonha, Maria Lira, serão as convidadas da noite. O evento tem patrocínio da Iveco, Teksid e Comau, empresas do Grupo Fiat; promoção do jornal Estado de Minas e apoio da Guarani FM. A entrada é gratuita, restrita à lotação do auditório: 180 lugares.

Nos quatro cantos do território nacional, nos rincões mais distantes, emergem produções estéticas de rara beleza vinda de gente simples. O fenômeno se repete em todo o Brasil e, Minas Gerais, tem situação privilegiada neste segmento com representantes, sobretudo, no Vale do Jequitinhonha. Quem são eles? O que pensam? De onde brota esta produção? Por outro lado, qual a análise que a especialista faz sobre desta criação estética que ainda é taxada pejorativamente como artesanato, numa tentativa de diminuí-la no mercado de arte.

Lélia Coelho Frota vai explicar como esta produção foi sendo taxada de popular de maneira preconceituosa. “Os artistas do povo no século XX, que é quando eles começam a surgir com preocupação de construir obras autorais, tiveram um desempenho tão bom quanto os letrados”, diz. Minas tem condição privilegiada, pois, segundo ela, por aqui, nas origens das cidades históricas e construção dos templos, houve grande tradição de artífices. Além de falar sobre os principais artistas do povo, vai analisar o trabalho de alguns que admira, como Maria Lira, também convidada do encontro.

Maria Lira entrou no universo das artes bem cedo, aos cinco anos, influenciada pela mãe, a artesã Odília. “Aprendi a vendo criar as bonecas inspiradas em personagens típicos de minha terra natal, Araçuaí, onde vivo até hoje.” Com o passar dos anos, para sobreviver, se tornou lavadeira e, no tempo vago, deu prosseguimento aos ensinamentos da mãe, criando no barro máscaras e figuras retratando a pobreza da região. Nos anos 70, com a ida de Frei Chico para Araçuaí, sua arte foi descoberta e valorizada. Hoje, é destaque em algumas das principais galerias do país. Nos anos 80, depois de um sério problema na coluna, foi obrigada pelos médicos a parar momentaneamente de trabalhar com argila. A pintura com pigmentos de terra surgiu como alternativa dando vida nova à sua produção artística.

Serviço

Arte em Dez Tempos – “Arte do Povo no Brasil dos Séculos XX e XXI”
Dia: 30 de julho, quinta-feira / às 19h30
Local: Casa Fiat de Cultura - Rua Jornalista Djalma de Andrade, 1.250, Belvedere
Informações: (31) 3261-1501 e www.sempreumpapo.com.br

sábado, julho 18, 2009

Um presente para Ciccillo no Palácio das Artes

Ciccillo Matarazzo, além de empresário, foi um grande incentivador das artes e da cultura durante os anos 50. Idealizador de um dos mais importantes movimentos intelectuais do país, a I Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, Ciccillo teve seu trabalho reconhecido de uma maneira muito especial: recebeu, de 48 grandes artistas plásticos, um álbum com obras criadas especialmente para ele. Em 2009, 56 anos depois, quem recebe este presente é o público do Palácio das Artes. A exposição Um presente para Ciccillo fica aberta para visitação de 27 de junho a 02 de agosto, na Galeria Alberto da Veiga Guignard, e a entrada é franca.

A mostra traz as obras de artistas como: Aldemir Martins, Aldo Bonadei, Alfredo Volpi, Antonio Bandeira, Bruno Giorgi, Clovis Graciano, Di Cavalcanti, Flávio de Carvalho, Tarsila do Amaral, Marcelo Grassmann e Odetto Guersoni, entre outros. Os artistas estão agrupados em oito grandes grupos, e acordo com o período ou movimento artístico a que pertenciam. Toda a coleção pertence a Abib Maldaun Neto.

Segundo a curadora da mostra, Denise Mattar, o corpo principal do álbum é constituído de artistas que participaram da II Bienal de São Paulo, e o conjunto de obras em exposição reflete o período de transição pelo qual passava a arte brasileira. “Há representantes do primeiro Modernismo, do Grupo Santa Helena, da Família Artística Paulista, do Grupo dos 19, do Atelier Abstração, além de artistas do Ceará, Bahia e Minas Gerais. Estão também presentes artistas italianos, que aqui viveram por um certo período, e participaram da Bienal e do Ballet do IV Centenário”, conta Denise.

A curadora destaca a importância e qualidade dos artistas reunidos. “A qualidade do conjunto e principalmente o ineditismo das obras tornam este álbum muito especial. Raras vezes existe a oportunidade de encontrar um grupo de obras de tal importância inédito e com um significado histórico tão relevante”, ressalta Denise. Todas as obras foram feitas especialmente para o Ciccillo e permaneceram desconhecidas do público, e mesmo dos historiadores de arte, de 1953 até 2006, quando o conjunto foi apresentado em São Paulo. Em 2007 a mostra foi apresentada em Ribeirão Preto e em São José dos Campos.

Na mostra são apresentadas também fotos e material documental da época. Imagens das Bienais de 51 e 53, dos artistas e também de pessoas comuns, com seus modos de vestir, alimentar e divertir, além de anúncios de jornais e revistas, capas de discos enriquecem as vistas à Um Presente para Ciccillo.

Serviço
Evento: Exposição Um presente para Ciccillo
Local: Galeria Alberto da Veiga Guignard
Data: 27 de junho a 2 de agosto
Horário de visitação: Segundas: 18h às 21h; terças a sábados: 09h30 às 21h e domingos: 16h às 21h
Entrada franca
Informações: 3236-7400

Sugestão: Prof. Bernardes

sexta-feira, julho 03, 2009

PALESTRA DE ENCERRAMENTO DO SEMESTRE COM WILL CONRAD


Dia 09 de julho, de 16h00 às 18h00 na Casa dos Quadrinhos

Vilmar Conrado, mais conhecido como Will Conrad, nasceu em Belo Horizonte e começou a desenhar muito cedo, aos 4 anos. Começou a trabalhar profissionalmente com ilustrações para livros aos 18 anos e trabalha para o mercado americano de quadrinhos há 8 anos.

Entre os trabalhos que arte finalizou estão “Buffy”, “Angel”, “Scorpion King”, “Star Wars” e “Birds of Prey”, entre outros.
Depois deste período, começou a assumir a arte de vários trabalhos e desde então tem trabalhado exclusivamente como desenhista principal para editoras como Marvel, DC Comics, Top Cow e Dark Horse.

Entre outros projetos, merecem destaque “Freshmen”, “Red Sonja”, “Elektra”, “Witches”, “Emma Frost”, “Teen Titans”, “Outsiders”, “Star Wars”, “Serenity”, “Conan” e “Kull”.


Will Conrad trabalhou exclusivamente dois anos para a Dark Horse, onde desenhou a minissérie “Serenity: Better Days”, série escrita por Joss Whedon e Brett Matthews, e que este ano concorre ao prestigiado prêmio Hugo Awards de melhor série de ficção.
Após finalizar a série “Kull”, seu projeto mais recente, Will Conrad está novamente na Marvel Comics como desenhista regular da série “Black Panther”, além de uma participação em “Dark Avengers”.´



Will Conrad é um dos artistas convidados do FIQ 2009, onde participará de palestras e de sessões de autógrafos durante o festival.

Acesse o website de Will Conrad: www.willconradart.com

Garanta sua vaga na recepção da Escola!
Vagas limitadas!

quarta-feira, julho 01, 2009

De limoeiro para o resto do mundo

O cearense José Edilbenes, ex-servente de pedreiro,
faz sucesso desenhando super-heróis para uma das
mais poderosas editoras de quadrinhos dos Estados Unidos


Kalleo Coura

Montagem sobre fotos Drawlio Joca
TODOS OS HERÓIS DE EDILBENES
Para desenhar do Superman ao Batman, o desenhista, que não fala inglês, recebe os roteiros traduzidos


VEJA TAMBÉM
Exclusivo on-line
Confira galeria de trabalhos
de Ed Benes

Em Limoeiro do Norte, no interior do Ceará, onde as carroças ainda disputam espaço com motos e bicicletas nas ruas, todos conhecem José Edilbenes Bezerra, de 36 anos, como "aquele que desenha". Desde os 18, quando deixou de fazer bicos em uma fábrica de filtros e de trabalhar como servente de pedreiro, ele passa até onze horas por dia, incluindo sábados e domingos, sentado numa escrivaninha com o lápis em punho. Mesmo sem entender inglês nem nunca ter saído do país, Edilbenes é contratado exclusivo da poderosa DC Comics, a segunda maior editora de quadrinhos dos Estados Unidos, detentora de títulos como Batman e Superman. Os quadrinhos que desenha raramente chegam a uma das três bancas de Limoeiro, mas ele não se incomoda com isso. "Aqui todos sabem o que eu faço. Vira e mexe vem um garoto me mostrar uma ilustração e pedir dicas", diz Ed Benes, apelido pelo qual é conhecido no exterior. O cearense não é o único brasileiro do ramo a fazer sucesso nos Estados Unidos. O número de artistas nacionais que emprestam seus traços às editoras de quadrinhos americanas triplicou nos últimos quatro anos. Atualmente, outros 150 desenhistas e coloristas trabalham nesse mercado. A maioria faz 22 páginas por mês, o equivalente ao tamanho de uma edição. Como recebem de 50 a 500 dólares por página desenhada, sua renda mensal varia de 1 100 a 11 000 dólares.

Os desenhistas brasileiros são parte de uma indústria que movimenta anualmente, só com a venda de publicações, 330 milhões de dólares nos Estados Unidos. Neste ano, dos dez quadrinhos mais vendidos por mês, dois foram desenhados por artistas nacionais. O traço brasileiro não agrada só ao público: faz sucesso também entre os críticos. Em 2008, o gaúcho Rafael Grampá e os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, de São Paulo, venceram o Eisner Awards, premiação americana que é considerada "o Oscar dos quadrinhos". A equipe, que inclui dois outros desenhistas estrangeiros, ganhou com uma série de histórias sem balões em que os personagens são os próprios desenhistas. "Depois do prêmio, ficou muito mais fácil discutir novos projetos com as editoras", conta Moon. Hoje, ele e o irmão trabalham juntos em projetos para duas editoras internacionais.

Alexandre Schneider
GÊMEOS PREMIADOS
Os paulistas Fábio e Gabriel, ganhadores do "Oscar dos quadrinhos", e dois de seus trabalhos publicados pela terceira maior editora americana

O crescimento da participação de estrangeiros no mercado de quadrinhos americano (além dos brasileiros, também italianos e filipinos vêm ganhando espaço nele) deve-se principalmente à facilidade com que, graças à internet, as editoras identificam novos artistas e recebem deles os desenhos. Além disso, o preço de página de um iniciante estrangeiro é menor do que o de seu equivalente americano. "Enquanto um brasileiro que está começando cobra, no máximo, 75 dólares por página, um americano não trabalha por menos que isso", diz Joseph Rybandt, editor da Dynamite Entertainment. "Claro que, quando eles ficam mais renomados, o salário acaba se igualando", diz.

As agências especializadas, que se encarregam de fazer a ligação entre artistas e editoras, são outro elemento facilitador na contratação de estrangeiros pelos americanos. Segundo Chris Allo, coordenador de talentos da Marvel Comics, grande parte dos desenhistas brasileiros não fala inglês e, portanto, não entende os roteiros originais das histórias que ilustra. As agências é que se encarregam de fazer a tradução. Ed Benes usa esse tipo de serviço. Mas, quando tem de se comunicar com o intermediário que vende originais de seus trabalhos a fãs nos Estados Unidos (ao preço de até 10 000 dólares cada desenho), recorre ao tradutor automático do Google. Mensalmente, ele recebe da DC Comics em torno de 8 000 dólares, descontados os 18% que ficam com a agência. O dinheiro o tornou um dos moradores mais ricos de sua cidade. Difícil é gastá-lo, já que na pequena Limoeiro nem cinema tem. Para ver seus heróis na tela, o artista tem de viajar 200 quilômetros até Fortaleza.

Quando os primeiros desenhistas brasileiros começaram a ser contratados nos Estados Unidos, no fim da década de 80, os editores temeram que seus nomes soassem latinos demais para os ouvidos americanos. Ao sul-mato-grossense Marcelo Campos, por exemplo, sugeriram que assinasse "Marc Fields". "Não gostei, mas acabei topando assinar como Marc Campos", diz. Um dos pioneiros do mercado, ele foi desenhista dos mutantes do X-Men e do Homem de Ferro, entre outros personagens. Hoje, Marc voltou a ser Marcelo e abriu uma escola de desenho em São Paulo, para ensinar garotos que aspiram um dia dar vida ao Superman ou mostrar uma batalha entre o Homem-Aranha e o Duende Verde na Times Square – ainda que nunca tenham estado lá, como Ed Benes. Há algum tempo, o artista cearense foi convidado pela DC Comics para participar de uma convenção de quadrinhos em San Diego, na Califórnia. "Tudo pago, mas eu não quis ir. Nem passaporte eu tenho, e daria muito trabalho para tirar." Ed chegou a morar em São Paulo, mas não gostou da experiência. "Lá é um desassossego só. Não quero sair daqui, não." Nem precisa. De Limoeiro do Norte, seus desenhos já dão a volta ao mundo.


Sugestão: Prof. Jean Paulo

Colaboradores da Biblioteca

A Diretoria da Casa dos Quadrinhos agradece às pessoas que, generosamente, contribuíram para o enriquecimento do acervo da Biblioteca da Casa neste semestre.

1. Alessandro de Melo Rocha
2. Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de BH
3. Cleide Fernandes
4. Cristiano Seixas
5. Daniel Lima
6. Dorothy Seixas
7. Eduardo Bernardes
8. Eduardo Pansica
9. Erick Azevedo
10. Flávia Mello
11. José Illge
12. Leonardo Cuisse
13. Luiz Marcelo
14. Pedro Ivo
15. Rodney Buchemi
16. Rodrigo Pithon
17. Rommel
18. Ronaldo Pimentel
19. Sophia Cueto
20. Tayla Olandim